segunda-feira, 27 de março de 2017

Crescemos numa rua fechada e ninguém era “dono da rua”.

                       

Passados 40 anos desde nossas festas na garagem e brincadeiras de rua, reencontramo-nos alguns no casamento de Duca. Decidimos mover esforços para um grande reencontro dos amigos da Rua Professor Edgar Altino. A alegria desse reencontro aconteceu alguns meses depois num encontro no Bar Real, próximo da nossa velha rua. Emocionados, revivemos momentos de alegria e descontração. Reavivamos o carinho da infância e adolescência. Desde a formação do grupo no facebook e no whatsapp, voltamos a participar bem de perto das vidas dos amigos da rua, compartilhar as emoções, estar perto embora longe.

Desde o primeiro encontro, sucederam-se alguns encontros inesquecíveis com a presença de boa parte da turma, inclusive alguns pais - a turma da velha guarda, grandes exemplos para todos nós. Ocorreu-me pensar no vínculo que mantém tantas pessoas que trilharam caminhos tão distintos coesas de maneira tão forte que, independente do estilo de vida e padrão social. Somos sim amigos para sempre.

A Edgar Altino surgiu num desses conjuntos residenciais feitos pelo Banco do Brasil, financiados pelo BNH na década de 60. Meus pais mudaram-se para lá em 1961. Ele engenheiro do DNOCS, em frente, Dr. Geraldo, engenheiro do DNER e Dr. Manoel, engenheiro da COMPESA. Mais adiante, Dr. Arnaldo, empresário, Dr. Hélio, Arquiteto, a maior família da Rua . . .Todos tinham a mesma faixa etária, vivendo o mesmo momento de construção da família e da vida, filhos com idades bem próximas, aproximadamente o mesmo padrão de vida... certamente isso tudo e o mangue no fim da rua que transformava aquele espaço num local sem movimento de carros certamente foram elementos determinantes para o desenvolvimento de nossa amizade.

Brincávamos todas as tardes depois das tarefas escolares e, na adolescência, a noite até o chamado dos nossos pais para dormir. Somos verdadeiramente abençoados e privilegiados. Tivemos a oportunidade de crescer juntos em comunidade harmoniosa onde o respeito sempre foi algo natural. às vezes penso que a maioria dos brasileiros do tempo da Educação Moral e Cívica e aulas de Religião no Colégio aprendemos com nossos pais que Ética, Caráter, Moral, respeito e Amor são uma corrente inseparável e indestrutível.

Somos do tempo em que o carrinho do sorvete, da pipoca, o moço do quebra-queixo e o do cavaco chinês passavam na porta de casa todas as tardes e as crianças todas esperávamos pela hora das guloseimas depois de terminado o dever de casa. Passamos pela fase do passeio no braço da babá para o banho de sol matinal, depois o passeio de carrinhos, os velocípedes, bicicletas, mais tarde o queimado, amarelinha, bola de gude até as tertúlias e festas de garagem.


Quando Xande ficou mais alto comprou uma rede e uma bola de vôlei. Nessa época, o queimado teve que passar para o fim da rua. Os postes paralelos ficavam entre a casa de Seu Braga e a casa de D Mocinha, do outro lado da rua.
Nossas mães sempre foram exemplo de integridade, carinho, amor, cuidados. Tínhamos o horário de fazer o dever de casa logo depois do almoço e éramos liberados para brincar na rua depois do lanche da tarde. Muitas vezes, quando a brincadeira da tarde era na casa de alguma vizinha, éramos presenteados com um bolo de chocolate, rabanadas, biscoitos e sucos na casa das amiguinhas. 

Brincávamos de bonecas, andávamos de bicicleta rua acima e rua abaixo. Os mais atrevidos fugíamos para a Praça de Casa Forte e até ao Colégio, buscar jambo, ou comprar chicletes ping-pong na barraquinha da esquina da Praça.
Refrigerantes, apenas nas festas de aniversário. Tomávamos suco de frutas e de vez em quando também recebíamos ki-suco com biscoitos. Tínhamos o clube do Chiclete, das bonecas e roupinhas de papel, os meninos também tinham suas brincadeiras. São amigos até hoje.

Quando meu pai fez o primeiro andar, depois da cheia de 1969, passamos a brincar também no sótão (a parte da casa que tinha telhado mas ainda não estava completamente construída. Ali era nossa casa de bonecas. Lá, eu e minha irmã construímos nosso esconderijo secreto.

As festas da garagem eram especialíssimas. Muitas paqueras que jamais haviam sido reveladas foram por fim descobertas no primeiro reencontro, mais de quarenta anos depois.

                              



Relações de vizinhança que se fortaleceram com a convivência de mais de 20 anos até o momento em que a maioria foi levado pelo destino para outros lugares. Cada reencontro é uma alegria imensa. 

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