Talvez
a insegurança e o medo desapareçam naturalmente com a convivência amistosa, solidariedade e amizade entre as
pessoas que compartilham um mesmo espaço neste mundo de Deus. Com toda a
certeza do muno, a única forma de se obter convivência harmônica é o fortalecimento
das relações de vizinhança construída com respeito e amizade.
Alcançar amor altruísta e incondicional sei que é querer
muito num mundo onde os apelos do ego, da posse e da materialidade da
existência levam as pessoas a cobrarem demais ao invés de doar de si.
Todos os dias, ao despertar, ao abrir os olhos, o primeiro
sentimento que me vem é: obrigada, meu Deus! Ainda estou por aqui... que
maravilha. Mais um dia e oportunidade de aprender mais. Quem sabe hoje consigo
subir mais um degrauzinho na minha busca de aprimoramento espiritual. Então
percebo os primeiros raios do sol, o canto da sabiá à minha varanda, ainda o
canto das cigarras e uma diversidade incrível de pássaros que despertam cedinho
como eu. Dormi num colchão confortável, aquecida e relaxada depois de um banho
morninho. Alimentei-me de maneira saudável: tenho aqui frutinhas doces e
deliciosas colhidas no pomar em frente à casa, alguns vegetais que consegui cultivar
apesar da pouca chuva... somos muito abençoados e privilegiados. Viver em meio
à natureza é um privilégio imenso.
Gratidão!!!Gratidão a Deus pela existência que me foi
proporcionada nesta vida repleta de presentes em todos os níveis e de toda
natureza.
E agradeço além: pelas diferenças - o maior agente
enriquecedor da sociedade. É através delas que as necessidades se complementam
e as carências são supridas. O que rejeitamos no outro normalmente é o espelho
de nossas consciências.
Não conheço a maioria dos novos moradores de minha vizinhança.
Estamos aqui há 25 anos. Infelizmente, a postura de um pequeno grupo impôs
distanciamento entre os vizinhos e isolamento. Descobri há algum tempo que as
pessoas deixaram de conviver e compartilhar com os que moram perto por medo,
constrangimento e até vergonha. Vivemos num pequeno grupo social extremamente
heterogêneo em sua condição de materialidade e o nível de exigência imposta
gerou esse isolamento cruel e doentio. Alguns tem renda familiar mensal
superior a cem salários mínimos, outros cinquenta enquanto outros não chegam a
contemplar mensalmente mais que 5 salários mínimos. Descobri também que há um
número imenso de pessoas em estado depressivo, tristes e trancadas em seus
quadrados, receosas de oferecer um sorriso sequer durante a caminhada pelas
ruas e pela praça do loteamento. Qualquer aproximação poderia gerar um
cumprimento ou um pedido de carona. As pessoas poderiam chegar perto demais. Talvez
as fragilidades sejam maiores que as fortalezas.
Mais que isso, descobri que isso não é característica
exclusiva da minha comunidade mas de diversos grupos organizados de maneira a
também isolar seus membros, oprimir, reprimir, coagir e cobrar. Cobrar comportamentos à revelia da vontade de cada um e, especialmente, despesas acima da capacidade de pagamento de boa parte das
pessoas. Descobri que alguns chegam a fazer empréstimos e passam por privações
para pagar taxas impostas pelo grupo de elite e fazer jus a despesas definidas
pelo grupo de alta renda. Soube também
de um dito que se tornou popular entre os abastados: “quem não puder pagar, que
se mude!”.
Grupos políticos
impigem medo ou argumentam medo para manter hegemonia e poder.
Comunidades buscam
as semelhanças para fortalecer-se.
Não parece loucura isso? - Além do aspecto da legalidade,
justiça e hombridade faz-se urgente e necessário contestar a condição de
humanidade dessa postura. A que ponto
chegam os egos enormes e o hábito de enxergar apenas os próprios umbigos? Quem
não puder pagar, que se mude? Está chegando o tempo em que muitos terão que
mudar: de planeta.
Josevita Tapety Pontes
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